Palácio da Justiça







Palácio da Justiça
Endereço: Praça Clóvis Bevilacqua, s/nº - Centro






Encomendado ao arquiteto Ramos de Azevedo em 1911, o Palácio da Justiça tem em sua história curiosidades e fatos marcantes. Considerado monumento de valor cultural e de ideais nobres, o prédio foi tombado pelo Governo do Estado em1981.

Segundo guias turísticos noturnos que passam pelo local é possível , "ouvir choros e barulhos de pessoas condenadas que se dizem injustiçadas". 



A história que se conta do Palácio da Justiça é que pairam por lá as almas que foram injustiçadas nos julgamentos. "As almas, inconformadas, rodeiam pela sede do Palácio, principalmente pela sala do Tribunal do Júri e pelos pisos inferiores. Segue abaixo um relato de um visitante do Palácio.


Relato 



Este fato aconteceu por volta de 2005. 
Eu ainda não tinha uma digital. Usava a minha velha máquina Pentax com canhão de zoom, alimentada a filmes coloridos da “Agfa”.





Fui para a Cidade fotografar o prédio do Palácio da Justiça. Pensava também na possibilidade de fotografar o seu interior. Principalmente as clarabóias e os vitrais criados pelo Conrado Sorgenicht Jr., dono da famosa e centenária Casa Conrado. Os vitrais dessa Casa estão em todas as obras de Ramos de Azevedo e por toda a cidade, em prédios públicos e particulares. São magníficos! 
Fiz as fotos do exterior e entrei. Falei com a responsável e para meu desencanto, eu não poderia fotografar o interior. Para isso havia uma série de procedimentos para se conseguir a autorização. Não poderia fazer fotos, mas poderia visitar o interior e caso desejasse, visitar o Museu do Palácio. Claro que eu queria!
Enquanto a monitora não chegava passeei pelo “hall” – o Salão dos Passos Perdidos, admirando as belas colunas de granito.
A monitora levou-me a visitar o Palácio. Vi os vitrais, as clarabóias; passeei pela Sala do Tribunal do Júri; por salas, saletas e gabinetes. Estava encantado. Tanta beleza e harmonia em um só lugar.

 
Descemos. Deixei as minhas coisas na sala da monitora e ela me acompanhou ao Museu. Deixou-me lá. Que eu ficasse à vontade, pelo tempo que quisesse. Que quando saísse, passasse pela sua sala, para pegar minhas coisas e alguns “folders”.
Deleitava-me caminhando pelo Museu, admirando os quadros a óleo de juízes e de velhos Presidentes da então Província de São Paulo. Encantava-me com toda aquela parafernália em prata, usada pelos juízes. Lia velhos documentos.
De repente, senti um mal-estar. Uma sensação de desequilíbrio, como se do alto de um edifício eu olhasse para baixo – A tal “atração do abismo”. Olhei ao redor e não vi nada. Mas sabia, havia uma presença na sala que parecia me vigiar. Alguma coisa me impeliu a olhar para a grande mesa central, onde eram expostos pequenos objetos de uso jurídico. Ao olhar para a cabeceira da mesa a vertigem se acentuou. Não via nada. Mas o que estava ali, embora invisível era sólido, muito sólido. Paralisei por um segundo, mas o meu instinto de auto-preservação falou mais alto. De costas, me aproximei da saída e andei apressado pelo corredor, em direção da sala da monitora. Entrei.
 


A monitora olhou para mim. Seus olhos brilharam de satisfação. Olhei para ela com cara de interrogação. Ela riu alto e perguntou: “Você viu ele”? “Viu o fantasma”?... Pensei : “Filha de uma...”! Respondi com raiva: “Não vi! Mas, que senti a presença dele, eu senti”! Contei a ela o que se passara comigo.













Ela, por sua vez, me contou que muitas pessoas que visitaram o Museu sentiram que havia uma presença na sala. Que outros viram um juiz, com a beca, à cabeceira da mesa. 
Disse mais. Estranhou que eu demorasse tanto para sair, visto que a maioria saia de lá o mais rápido possível... Disse-lhe que, talvez, por estar interessado nos objetos expostos, demorei a notar a tal presença. Ela riu muito. Eu, bancando o “machão”, dei risadinhas amarelas.
Eu, “el gran cagón”, saí de lá jurando que nunca mais entraria sozinho naquela sala.
A minha experiência foi apenas mais uma entre as tantas que acontecem e aconteceram por lá. Aconteciam muito antes de ali existir o Palácio.


No quadrilátero correspondente a área do Palácio da Justiça, existiu o prédio do Quartel de Linha (inaugurado em 1791). Ali, esteve instalada a Legião de Voluntários Reais. Naqueles tempos, poucos se alistavam voluntariamente. A maioria fugia ao recrutamento. Eram caçados e forçados a servir. Forçados, não tinham escolha: Era servir, ou a forca. E, muitos desses soldados viviam em uma quase indigência dentro do quartel. Enfim, um local de sofrimento que, na mente do povo, era tido como assombrado.
Dizia-se que as almas dos soldados pobres mortos, enterrados como indigentes no Cemitério dos Aflitos, voltavam ao quartel a assombrar o prédio. Dizia-se que muitos soldados - “voluntários” forçados da Guerra do Paraguai, depois de mortos voltavam ao Quartel, onde se tornaram assombrações violentas e acusadoras... Lenda urbana de uma São Paulo Antiga.
A antiga São Paulo dá lugar à São Paulo metrópole. Em 1915 , demoliu-se o velho Quartel de Linha. No mesmo local começou a preparação do terreno para a construção do Palácio da Justiça (anos 20).

Ainda em construção, inaugurado nos anos 30, o Palácio iniciou a sua vida intensa no árduo trabalho de se fazer Justiça. E o passar das décadas o enriqueceu com uma infinidade de histórias insólitas: O pessoal da faxina, vigias, falavam sobre portas que se abriam e se fechavam; passos, vozes e sombras que circulavam pelos corredores. 



Contavam sobre o barulho das máquinas de escrever, incessantemente “marteladas”, nas salas das Varas. Tudo acontecia na noite e na madrugada. Falavam também, de uma estranha e tênue névoa que se formava no interior do Salão dos Passos Perdidos...
Eu nunca mais voltei lá sozinho!